sábado, 31 de outubro de 2015

Suici.De.Pression, por Thy Light (2007)

Capa de Suici.De.Pression.
Quem me conhece sabe o quanto sou um consumidor assíduo de música e que sempre procuro estar conhecendo novos materiais. Nas andanças em busca de um som, eis que pesquisando um pouco sobre o gênero DSBM (Depressive Suicidal Black Metal) encontro uma banda brasileira (Limeira-SP) chamada Thy Light. Curioso pelo título bem bolado de um dos discos, resolvi ouvir Suici.De.Pression. Quando terminei de ouvi-lo, não consegui conter o meu êxtase (que naquele instante estava travestido de agonia) e decidi que deveria escrever sobre tal som.

Imagine um grito de agonia; uma última tentativa de tentar não consolidar um estado de depressão; uma forma, mesmo que fria, de se manter vivo; então... é este o caminho percorrido ao se ouvir o disco. Poucas vezes tive uma experiência melancólica tão forte com um disco quanto ouvindo "Suici.De.Pression". Pelo que me recordo, no momento, apenas "V - Halmstad (Niklas Angående Niklas)", da banda sueca Shining, me causou impacto parecido.

Já na primeira música: "Suici.De.Pression (Introduction to My End)", o tom melancólico do disco toma forma na magistral beleza que apenas um piano consegue propiciar. Na seguinte música: "In My Last Mourning...", a atmosfera de agonia ressalta e os riffs pesados e o vocal gutural se intercalam com melodias suaves. 

Nos versos desta música, é dito: "Os ponteiros do relógio batem. Sinto pulsando em meu peito toda a agonia de mais um dia neste mundo de escuridão. Através das minhas narinas, corre o cheiro da minha própria morte impressa no céu cinzento de domingo. Eu me matei... eu tirei a minha vida. Em meu último pranto, eu percebi, eu sempre fui o nada que eu temia me tornar."

Na sequência, a terceira música: "A Crawling Worm In a World of Lies" surge, dando continuidade ao clima inóspito. Nos versos, é dito: "Desolado. Apenas assisto o caminho que trilhei para chegar até aqui. Tudo em vão. Nenhuma recompensa para me fazer levantar a cabeça. Amarga foi minha derrota. Vejo o céu coberto com a fumaça cinza que meus olhos nunca foram capazes de suportar. Na realidade decadente... eu sou apenas um verme rastejante em um mundo de mentiras."

Na quarta e penúltima música, o teor caótico se agrava, surge: "I Am the Bitter Taste of Gall", nela se ouvem os versos: "Contemplo a força decadente da natureza forjada que eu tenho sido forçado a admirar. Nada disso é mais especial, então um projeto amargo ao nascer do sol. Eu sou apenas carne ligada a ossos que não tem outro propósito, que não seja apodrecer. A beleza de tudo o que já ansiou ser belo é apenas maquiagem em escória existencialista. Eu sou o gosto amargo de fel que circula nas veias daqueles que ainda consideram a penitência eterna um presente divino. Todos os seus ídolos estão mortos. Eles morreram em vão. Pra quê? Vida?"

E agora, como diz o próprio título da última faixa do disco: "...and I Finally Reach My End", aqui termina o caminho trilhado por Paolo Bruno (único integrante da banda) em seu disco. Esse é - em definitivo - um disco que elevará para outro patamar este gênero. Usando de uma técnica fascinante, o disco soa fora de sintonia, produzindo um som sombrio e desolador. Morto; assim como o seu final...

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Thriller Night #1: Gurotesuku (2009)

Capa de Gurotesuku.
Sejam bem-vindos ao novo quadro deste choruminoso blog. "Thriller Night" terá uma edição todo mês e falará sobre filmes de terror/horror, com uma proposta de narrativa mais impessoal e despojada (embora eu saiba que não vou conseguir fazer isso). Se você curte a temática, espero que goste do que vou lhe apresentar aqui.

Pensei por um tempo sobre qual filme iria falar nesta primeira edição do quadro. Quem me conhece, sabe que prefiro MUITO mais os filmes de horror que são voltados para violência. Esses filmecos de demônio de quinta categoria que se espalham pela sétima arte, me causam urticária. Tendo dito isso, fica claro (apenas pela capa) o porquê do escolhido ter sido Gurotesuku (mais conhecido internacionalmente pelo título em inglês: Grotesque). Mas, deixemos de enrolação e vamos ao filme.

Se me pedissem para adjetivar essa película, eu não conseguiria pensar em nenhum melhor adjetivo do que o próprio título: "grotesco". O filme, que se desenvolve - quase que inteiramente - em uma sala de tortura, é uma sucessão de cenas doentias e insanas. Contudo, o filme não é só isso. Durante o transcorrer da história, é notório a 'insistência' do torturador com o diálogo ocorrido entre o "casal" antes de serem capturados.

Mas, aí você me pergunta: em quê caralhos consiste esse diálogo? Basicamente, a moça - logo após ter o primeiro encontro (sim, o primeiro!) com o rapaz - pergunta se ele morreria por ela (bem frase de romance do século XIX, não?). Motivado por isso (ou talvez não, como indica o final do filme) o torturador os ataca.

Já capturados, o casal acorda em uma sala escura, presos por correntes à uma 'cama' de metal. Logo de início, o torturador aplica seu primeiro golpe, perfurando o corpo do rapaz com um objeto pontiagudo. A partir daí, o roteiro - bastante propício - nos mostra o 'caminho' que trilharemos durante o filme. Segundo o próprio torturador, tudo o que ele quer é que os dois o excitem com sua vontade de viver. E é isso que ocorre.

Ele abusa sexualmente dos dois, numa das cenas do gênero mais icônicas da sétima arte, onde ele faz com que um assista a barbaridade que ele faz com o outro. Ele arranca os dedos de ambos (deixando apenas o polegar) e cria dois colares de dedos, para que um use os dedos do outro no pescoço. Ele decepa dezenas de membros, como, por exemplo: os mamilos e o braço da mulher, o olho do homem, além de - acredite se quiser - pregar três pregos (parecidos com aqueles usados na crucificação de Cristo) nos testículos do rapaz. Mas... o ápice só é alcançado quando ele decepa o pênis do rapaz, que faz isso para salvar a pele da sua amada. "Eu senti estimulação sexual", diz o torturador. E assim se encerra a sessão de tortura (será mesmo?).

Mas o que não ficou claro nas últimas linhas é que: todas as barbáries cometidas pelo torturador são estimuladas pelo amor do rapaz, que na ânsia por tentar salvar sua amada, se rende para tudo o que lhe possa acometer. Como eu disse no meu último post (que você pode ler aqui): afinal, até onde vai o limite do amor? Realmente é justificável qualquer atitude sob a "luz do amor"?

Bom... voltando. Depois de conseguir o que queria, o torturador trata dos ferimentos do casal e todo o ambiente caótico e sombrio do filme se transforma. Prometendo libertá-los assim que os ferimentos estejam totalmente curados, ele começa a tratá-los da forma mais cortês possível, afirmando que se entregará para a polícia e deixará para eles sua fortuna de 700 milhões de yens (moeda japonesa).

Contudo, qual o problema em tirar mais um pouco de ouro do pote? Contrariando sua promessa, ele os leva de volta à sala de tortura, onde resolve fazer uma nova experiência. "Agora poderá provar se está preparado para morrer por ela", diz ele. Ligando as tripas do rapaz à um gancho, ele explica que o rapaz terá de ir andando (com suas tripas pra fora) até onde a sua amada se encontra. Contudo, as tripas dele só alcançam até um determinado lugar. Chegando lá, o rapaz encontrará uma tesoura, que usará para cortar suas tripas. Após isso, basta que ele corte as cordas que prendem sua amada e ambos estarão livres.
Rapaz cortando suas tripas para salvar sua amada. Ah, o amor...
Porém, o rapaz não consegue. Quando estava muito próximo a conseguir, ele desmaia.O torturador, insatisfeito com o desfecho de seu 'jogo', resmunga: "Acabou? Que patético!". Sem poder extrair mais nada do rapaz, ele volta sua atenção para moça. "Mostre-me sua vontade de viver", diz ele, mas ela já não aparenta mais ter alguma vontade de viver. Após despejar toda sua repulsa em cima do torturador, tudo acaba em uma sucessão de acontecimentos caóticos.

Agora você me pergunta: tá, mas em quê esse filme vai acrescentar pra mim? Em suma, nada. Diferentemente de outros filmes bestiais que já falei aqui, nesse não há um significado oculto ou algo de conceitual, é apenas isso. Gurotesuku é um filme doentio, feito para pessoas que gostam de assistir esse tipo de atrocidade. Se você não é uma delas, assistir estas cenas chocantes pode se tornar algo perturbador. Portanto, pense bem antes de tentar.
____________________________________________________________________________

Últimos comentários: Gurotesuku tem uma trilha-sonora lindíssima, o que contrasta inteiramente com a atmosfera bestial do filme. Embora não seja gravado em primeira pessoa e não tenha as características de um snuff movie, esse filme espanta pela aparência crua e realística que suas cenas apresentam.

domingo, 4 de outubro de 2015

A Vida é Curta #1: He Took His Skin Off For Me (2014)

Quem já teve o desprazer de me conhecer, deve ter percebido minhas profundas suspeitas acerca da genuinidade de sentimentos como o amor, por exemplo. Seja como for, a proliferação da ideia de que o amor é algo acalentador está constantemente presente na sociedade. Veremos isso em He Took His Skin Off For Me (Ele Arrancou Sua Pele Por Mim)?

TCC (trabalho de conclusão de curso) de Ben Aston para a universidade: London Film School, He Took His Skin Off For Me contou com o apoio de cerca de 200 pessoas e levou dois anos para ser realizado. Com 0% de computação gráfica, todo o visual assumido pelo ator Sebastian Armesto é montado a partir de mil próteses que simulam os músculos humanos. He Took His Skin Off For Me é um trabalho lindíssimo, em todos os aspectos. Conceitualmente preciso, visualmente magnífico e musicalmente encantador.

Até onde vai os limites do tal famigerado amor? Ações estapafúrdias são justificáveis se vistas à luz do amor? Afinal, será que realmente vale tudo no amor? Quais consequências uma atitude impensada e impulsiva como essa podem causar? Essa é a mensagem metafórica escondida neste belíssimo curta do principiante diretor londrino Ben Aston, baseado no conto homônimo de Maria Hummer.

Entretanto, há mais um aspecto subentendido neste curta-metragem. Afinal, o que se poderia definir como pele (skin)? Seria essa pele apenas a representação física da hepiderme humana ou seria essa pele - também - a definição da pessoa em si? A pele é aquilo que você é, a sua essência. Logo, ele se desfaz dessa particularidade em função de sua relação; à pedido da sua esposa. Em prol do "nós".

Porém, com as diversas dificuldades geradas por ter arrancado sua pele, o homem começa a se arrepender de ter feito esta escolha. Afinal, seria mesmo prudente uma relação onde um dos componentes têm de sacrificar a sua essência para demonstrar o seu comprometimento? Se você precisa mudar aquilo que você é para estar com alguém, será que você realmente deveria estar com esta pessoa?

Mas aí vem a pergunta final: apesar desta demonstração de sacrifício... e o outro lado? Estaria a outra parte desta relação tão disposta a fazer esta mudança em prol do firmamento de um relacionamento mútuo? A natureza egoísta e egocêntrica do ser humano permitirá que essa reciprocidade ocorra?

Se você gostaria de tentar ver uma outra visão sobre o amor, este curta lhe servirá de mão cheia. Você está disposto a arrancar sua pele por alguém?