Capa do filme. |
Quando uma amiga me recomendou este filme com tanta empolgação e euforia, confesso ter ficado curioso. A narrativa simples que ela me apresentou me deixou intrigado com o porquê dela ter ficado em tamanho êxtase com esta pérola. Felizmente, quando pude assistir e conferir do que se tratava o filme, compreendi a excitação dessa minha amiga.
Contudo, a tradução do título me deixou um tanto quanto furioso, haja vista que o título original: Detachment, explicita de forma bem clara e objetiva o intuito do filme, enquanto a tradução soa como mais uma das tacanhas tentativas da indústria cinematográfica brasileira de tentar facilitar a experiência do espectador, mas que na realidade só atrapalha.
Mas afinal, do que se trata o filme? Aos olhos de uma pessoa desatenta, o filme pode soar apenas como um drama barato, mas por sob a camada dramática e densa há uma mensagem escondida: a crítica à expansão do desapego.
Logo no início, a epígrafe de Albert Camus já nos dá uma dica do que virá pela frente, nela se pode ler: "E eu nunca me senti tão imerso e ao mesmo tempo tão desapegado de mim e tão presente no mundo", sendo tal frase a base de construção do personagem principal, o professor interpretado por Adrien Brody, que surge como (talvez) o único interessado em educar os alunos e combater toda uma situação melancólica que lhe é confrontada durante o filme, ao mesmo tempo em que tem de lidar com seus traumas familiares e pessoais, transitando entre ambos os espectros como a recitar uma poesia.
Mas quando digo desapego, não restrinjo a ideia apenas às relações sociais que permeiam a convivência de todos nós como sociedade, mas também o desapego com o ambiente escolar, retratando a falência do ensino; o desapego com os valores que constituem a sociedade como um todo e o vazio existencial que nos acomete por não conseguirmos repor ou ao menos estruturar uma outra forma de organização moral; o colapso de toda uma geração, cada vez mais afundada em sua solidão e seus traumas.
Toda a atmosfera do filme gira em torno de uma sensação de asfixia, onde as pessoas estão cada vez mais desesperadas com a solidão e a dor que consome toda uma comunidade sem horizontes, como a parasitar em um cotidiano sem consequências. Cru e profundo, O Substituto é um verdadeiro ensaio sobre a vida, que resulta em muitas reflexões. Um filme grandioso e que vale a pena se conferir.
Trecho do roteiro extraído do filme: “Todos temos problemas, coisas com as quais temos que lidar, e todos nós levamos eles para casa de noite, e levamos para o trabalho de manhã cedo. Eu acho que tudo isso, essa impotência, essa constatação, esse mal presságio, estar à deriva em um mar sem boia nem salva-vidas, quando você achou que seria você quem jogaria a boia”.
Bom ver que está de volta aos negócios, esse filme é de fato impactante, já o vi duas vezes. A frase inicial dele, riscada no quadro logo nos primeiros minutos já mostra que a experiência cinematográfica será intensa.
ResponderExcluirTive de sumir por uns tempos por causa de problemas pessoais, mas estou de volta. Tentarei escrever com mais frequência agora.
ExcluirAgradeço o carinho de sempre. Grande Abraço!