sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Sem Mais Delongas #10: O fenômeno acadêmico do Marxismo.

(ou como os jovens são enganados pelo seu instinto "revolucionário").


Que a academia brasileira está tomada - quase que hegemonicamente - por um pensamento Marxista e seus adjacentes, não é novidade. Mas algo que mantém uma certa curiosidade em mim é o porquê de tantos jovens - nas suas mais variadas formas - defenderem uma ideologia falida, já refutada e comprovadamente falha. Claro que isso está totalmente ligado ao ensino centralizador e instrumentalizado que impera em grande parte no Brasil, mas ainda parece haver mais fatores envoltos nessa idolatria descabida ao Marxismo.

Em seu ensaio filosófico "A Mentalidade Anticapitalista", Ludwig Von Mises postula brilhantemente alguns motivos para a crescente ojeriza ao capitalismo (e consequentemente a ascensão do Socialismo), tais como o fracasso pessoal e a inveja dos bem sucedidos. Contudo, a adoção dessa postura por grande parte dos jovens brasileiros parece - ao menos para mim - advir do instinto de revolta que acomete a quase todos os jovens, na sua fase de descoberta do mundo.

Como toda revolta necessita de um alvo, muitos destes enxergam nas ideias de Marx um salvo-conduto para expor suas resignações e definirem, erroneamente, aquele que seria o inimigo: o capitalismo. Mas como poderia uma ideologia como o Marxismo, falha nas mais variadas ordens, sejam elas teóricas e práticas ou econômicas e morais, ser a solução para a suposta exploração do Capitalismo?

Economicamente falando, Marx erigiu seu pensamento na ideia da Mais-valia, conceito formado a partir da errada ideia de Valor-Trabalho formulada pelos economistas clássicos. Segundo Marx, um trabalhador é explorado pelo seu empregador pelo mesmo repassar ao primeiro um valor menor do que a quantidade de trabalho investido por este trabalhador. 

Porém, esta ideia de Marx já foi refutada pela teoria da Utilidade Marginal, que afirma que o que confere valor à uma mercadoria não é o trabalho investido na mesma, mas a sua utilidade. Uma mercadoria que tenha exigido muito trabalho para que seja produzida, não terá valor significante se não tiver utilidade e demanda de compra, resultando na teoria do Valor Subjetivo.

Faltou a Marx perceber que as diretrizes que desenvolvem o mercado funcionam de baixo para cima e não de cima para baixo. É o consumidor que, com seu poder aquisitivo, informa ao produtor o que lhe é útil ou não, fazendo com que - consequentemente - sejam determinados os valores de produção e de trabalho.

Além disso, Marx também esquece de notar um fator importante (e um tanto óbvio) ao formular sua teoria: o tempo. Em termos praxeológicos, um empreendedor investe na produção de bens após ter feito um processo de acúmulo de capital. Após ter passado por esse processo, ele coloca o capital acumulado na produção de bens econômicos que visam desenvolvimento, seja dele próprio, de seus funcionários ou até mesmo de seus consumidores.

Esse empreendedor não pode pagar para seu funcionário um valor x equivalente ao seu lucro, pois se assim o ocorresse não haveria dinheiro para que houvesse investimento no mercado e ele mesmo não teria o retorno do capital investido por ele no início. O capitalismo age como um processo de trocas voluntárias. O lucro funciona como indicador das riquezas produzidas, onde empregador e funcionário trocam voluntariamente o dinheiro pela matéria prima.

Se não houver lucro, não há como saber se o que está sendo produzido está trazendo ou não retorno financeiro, podendo fazer da produção um desperdício de recursos. Sem os preços de mercado e o lucro, seria impossível determinar se estará sendo produzido algo que vale mais que a matéria prima ou mesmo o tempo de trabalho.

Sendo assim, esse sistema de trocas demonstra como tanto empregador, funcionário e consumidor optam por preferências ao interagirem de forma econômica. Com o capital adquirido pelo trabalhador advindo do seu trabalho, ele obtém os mais variados bens de consumo. Caso ele tivesse que produzir ele mesmo estes bens de consumo, ele teria um trabalho imensamente maior para o adquiri-los, por isso ele opta pelo sistema de trocas.

É a forma que o trabalhador tem de consumir os bens de consumo, que ele não teria oportunidade caso ele optasse por produzi-los ele mesmo. Sendo assim, ele não só não é explorado, como ele ganha mais do que o seu trabalho jamais seria capaz de produzir sozinho. Para isso, ele aloca o seu trabalho usando do sistema de lucros, onde terá o seu retorno por meio de trocas voluntárias.

Posteriormente, outros economistas como Mises e Hayek ainda apontaram o problema do Cálculo Econômico, explicando que da forma como o Socialismo é postulado, é impossível que haja um dispositivo de medição de oferta e demanda. Se tal dispositivo não existe, a economia se torna um caos.

No que concerne ao aspecto moral, Marx propõe soluções que são por si só um atentado à todo tipo de aplicação moral. Segundo Marx, para se resolver essa exploração que seria feita contra o proletário, seria necessário que o Estado (órgão central) aja como distribuidor da riqueza. Para isso, o Estado (supostamente imparcial) confiscaria os bens de consumo e anularia o conceito de propriedade privada, delegando todo o funcionamento do mercado às ações estatais.

Tal postulação é imoral não somente por destruir direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade, conceituados por Locke, mas também no que concerne ao campo empírico. Ademais, é uma completa insanidade essa fé inabalável no ser humano (que agrupadamente compõe o Estado) que se mostrou falha em todas as experiências baseadas no Marxismo que o mundo produziu, com milhões de mortos resultantes do autoritarismo e a miséria gerada por tais experiências.

Dito isto, chego no ponto em que manifesto o que aparenta ser a resposta da pergunta feita anteriormente: o fator resultante para essa idolatria ao Marxismo advém do instinto revolucionário e o senso de justiça e igualdade que dominam os mais jovens. Filosoficamente, isso é muito bonito, mas o choque com a realidade mostra como tais conceitos são frágeis.

É no mínimo incoerente que sua inspiração revolucionária se confronte com a liberdade individual ou que você omita, por predileção, a ideia de que igualdade não necessariamente esteja ligada à riqueza e que desigualdade não necessariamente esteja ligada à miséria. Uma sociedade pode ser igualmente miserável ou desigualmente bem sucedida, garantindo um nível de vida satisfatório aos mais pobres.

Mas o mais curioso nisso tudo, é que essa formação de revolucionários de meia tigela não somente os aliena do verdadeiro problema, como faz com que estes se tornem asseclas e promovedores de um discurso despótico e que contribui para que esse problema se propague. É de se pensar até que ponto chegaremos...

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