(o esvaziamento das palavras).
Há algum tempo que venho percebendo, nas interações sociais que cercam a minha pessoa (e até mesmo na análise pueril que faço ao perceber a interação de outros), uma certa exaltação incompreensível das palavras e seu impacto em um contexto social e histórico. O valor de uma oração passou a um patamar onde as mesmas não representam - supostamente - apenas a externalização daquilo que se pensa, mas carregam dentro de si toda uma significância e pressão psicológica imbuída em um círculo social.
Tornou-se rotineiro ver pessoas perpetuando a ideia de que as palavras têm em si um valor que transcende a linguística, a semântica ou até mesmo a filologia. Ao meu ver - que há tempos adoto uma "filosofia de vida" inspirada nos versos de "Enjoy the Silence", do Depeche Mode - é um tanto quanto complicado conseguir entender toda essa glorificação abstrata. "Mas e a poesia?", dirão. O que será da poesia senão uma sucessão de mentiras expostas na forma de versos? O poeta é um fingidor, mas só o é por causa das palavras escritas por ele também o serem.
Todo esse senso de abnegação e altruísmo soa imensamente torpe. Não importa quantas manifestações de sentimento se faça, se estas não possuem em seu cerne algum tipo de verossimilhança. Agrava-se mais ainda quando ocorre a repetição desses mesmos dizeres a fim de que incorra um tipo de reforço positivo, onde se fica evidente a total fragilidade desse vácuo emocional.
"Morning Sun" (Edward Hopper, 1952). |
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