segunda-feira, 2 de março de 2015

Área Cult #1: The Elephant Man (1980)

Capa de The Elephant Man
The Elephant Man retrata a história verídica de Joseph Merrick, britânico que viveu na segunda metade do século XIX (1862-1890). Joseph Merrick sofria de uma doença congênita que é a causa das deformidades de 90% do seu corpo.

Indicado ao Oscar de 1981 em 8 categorias diferentes: Melhor Filme, Melhor Diretor (David Lynch), Melhor Ator (John Hurt), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora e Melhor Direção. Infelizmente, não ganhou em nenhuma das categorias. Injustamente, na minha humilde opinião.

The Elephant Man é um filme incrivelmente tocante e que mostra o quão pútrido o ser humano é. São mostrados pré-conceitos estabelecidos em prol de uma idealização de que a beleza é a qualidade imprescindível para a sociedade. Tentativas de expurgar um indivíduo da sociedade apenas por sua aparência incomum, como se o cujo fosse culpado por ter nascido assim.

O filme começa em um circo, onde o Homem Elefante é visto preso em uma jaula para pessoas que se interessem (e paguem) possam ver a "aberração" de Londres. Lá, Joseph Merrick é alimentado apenas de batatas e é constantemente espancado. 

“A vida é cheia de surpresas. Pense no destino da mãe dessa pobre criatura. Atacada no quarto mês de gravidez… por um elefante selvagem. Atacada numa ilha perdida… na África. O resultado está aqui. Senhoras e senhores… o terrível… Homem Elefante!”. Era assim que o londrino Joseph Merrick costumava ser apresentado no circo em que era exibido como atração. 

Um dia aparece um médico chamado Dr. Treves (interpretado por Anthony Hopkins) no circo. Futuro médico da Família Real Britânica, Dr. Treves o tira do circo e o leva para um hospital, onde terá a oportunidade de ter uma vida melhor e onde será estudado.

No começo, Merrick não fala, pois já não conseguia mais praticar tal ação. Apenas com o tempo é que ele começa a falar com o doutor. Inicialmente, tudo o que consegue emitir são grunhidos ininteligíveis. Com paciência, ele passa a conseguir se expressar, demonstrando ao doutor, inclusive, que este obtém a capacidade de raciocinar.

Com diálogos constantes e certa proximidade, Treves e Merrick tornam-se amigos e o doutor até passa a introduzi-lo em seu meio social, apresentando-o à sua própria esposa.

Com o desenrolar do filme, é perceptível a natureza bondosa e gentil de Merrick, contradizendo os preceitos dos julgamentos de todos que o viam. Mostrando a todos nós que a beleza não está apenas na estética, mas que ela é uma junção de fatores que fazem essa designação ser verdadeira.

Até que, um dia, o dono do circo - que teve tirado de si a sua principal renda - contata algumas pessoas para que ele possa sequestrar Merrick e trazê-lo de volta ao circo. Numa das cenas mais repugnantes do filme, um grupo de pessoas invadem o hospital e torturam Merrick. Fazendo-lhe piadas e comentários maldosos a respeito de sua imagem, batendo-o e praticando demais atos repugnantes - que prefiro não relatar - até que o dono chegue e o leve de volta.

Ao fazer a apresentação novamente, o dono percebe que os espectadores não o receberam da mesma forma e mais tarde, trata de agredi-lo novamente e trancafiá-lo numa jaula. Tocados pela situação de Merrick, os outros componentes do espetáculo "freakshow" o ajudam a escapar, cobrindo-o com um capuz, para que ninguém o perturbasse em sua viagem de volta (imagem ao lado).

Porém, a crueldade da humanidade é inconcebível e um jovem menino nota uma estranheza naquele peculiar moço e começa a importuná-lo, repetindo a mesma pergunta: "Por que sua cabeça é tão grande?". Percebendo aquilo, mais dois jovens notam a insistência daquele menino e começam a ir atrás dele, o que faz com que Merrick comece a acelerar o passo, para se desvencilhar daqueles importunadores.

Entretanto, ele não obtém sucesso nisso e quando percebe, está cercado por um grupo de pessoas, que tiram o seu capuz e revelam a sua identidade. Ao ver o susto nos olhos dos que estão em sua volta, ele volta a tentar fugir, mas novamente não obtém sucesso. Eles o cercam num local sem saída, aonde acontece a cena mais emocionante do filme.

"Eu não sou um elefante! Eu não sou um animal! Eu sou um ser humano! Eu sou um homem!",
diz Joseph Merrick, enquanto é cercado pela multidão.
É aí que os policiais chegam e ele retorna para o hospital, aonde volta a ter um bom tratamento. Voltando para um cotidiano estável, ele é levado ao teatro para finalmente poder apreciar uma das suas paixões. A dona do teatro - anteriormente apresentado a Merrick - ao término do espetáculo, se dirige à plateia e diz que dedica a atuação daquela noite a Merrick, que é aplaudido de pé por todo o público do teatro.

De volta ao lar, Merrick e Treves têm uma breve conversa, antes de ir para cama. Logo após conversarem, Treves deixa o quatro para que Merrick possa dormir. Porém, ele não faz isso. Merrick sempre dormia sentado, em sua cama haviam uma porção de travesseiros para que ele não se reclinasse enquanto dorme, pois seu pescoço não aguentava o peso de sua cabeça durante o sono. Entretanto, após tanta alegria vivida naquele dia, ele retirou os travesseiros da cama e se deitou... e ali mesmo, ele morreu, com o peso de sua cabeça esmagando sua traqueia. Deu fim a sua existência, no momento de maior alegria da sua vida. 

Uma crítica linda a nossa sociedade, cheia de pessoas fúteis, que só se preocupam com a imagem e com a ostentação de que a beleza é o que forma o caráter de um indivíduo. Tornamos rasos os nossos julgamentos, tudo por mera idiotice. Joseph Merrick é uma das maiores representações disso, pois é praticamente certo que quase todos que assistirem esse filme pela primeira vez, irão sentir um pouco de repulsa.

O filme é emocionante. Podemos acompanhar a evolução de um homem que, por ser diferente, aceitava de forma passiva a condição de "aberração". Nos faz pensar sobre como vemos as pessoas ao nosso redor, refletir sobre o que é verdadeiramente belo e feio. Talvez tudo que façamos seja admirarmos um conceito padrão, esquecendo a verdadeira beleza. Talvez sejamos exaltadores da feiura, sem nem mesmo perceber. Talvez nós mesmos sejamos as aberrações.
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Curiosidades:

1. O verdadeiro nome do Homem Elefante é Joseph Merrick, não John Merrick (como é repetido diversas vezes no filme). A troca de Joseph por John foi ocasionada pelos escritos de Frederick Treves, por motivos desconhecidos.
2. O diretor Mel Brooks foi um dos produtores executivos de The Elephant Man, tendo sido o responsável pela contratação de David Lynch e pela decisão em filmar em preto e branco. Entretanto, para evitar que o público considerasse que o filme fosse uma sátira pela simples presença de seu nome, Brooks pediu que não estivesse presente nos créditos do filme.
3. A maquiagem do Homem Elefante levava cerca de doze horas para ser feita.
4. Apenas em 1986 é que foi confirmado que o nome da doença da qual Joseph Merrick sofria chama-se Síndrome de Proteus.
5. No final de todas as suas cartas, Joseph Merrick terminava com um trecho de um poema de Isaac Watts: "De facto, a minha aparência é algo medonha, mas censurar-me é censurar a Deus. Pudesse eu recriar-me novamente, não te decepcionaria. Pudesse eu abarcar o mundo de polo a polo ou abraçar o oceano num amplexo, seria medido pela minha alma, a base da mente do homem".

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