domingo, 31 de janeiro de 2016

Thriller Night #3: Cujo (1983)

Capa do filme.
"Uma impactante e estremecedora visão do medo... um pesadelo que vive muito além de toda a imaginação." 
- The Hollywood Reporter

As adaptações do mestre do terror literário: Stephen King, são diversas. Algumas mais conhecidas, como os clássicos "O Iluminado", do Stanley Kubrick e "Carrie - A Estranha", do Brian de Palma. Mas, afinal, o que faz com que "Cujo" figure entre as melhores adaptação deste tão aclamado autor?

O filme parte de uma premissa simples. O cão (Cujo) é mordido por um morcego e adquire raiva. Com o processo da doença, o cão perde o controle de si mesmo e ataca a todos que vê pela frente. Seu aspecto, anteriormente dócil, transforma-se na imagem de um animal assassino, com olhos vermelhos, babas gosmentas escorrendo por seu boca e o pelo manchado com o sangue de suas vítimas. 

Cujo, já "transformado".
Girando em torno da família formada por Vic Trenton (Daniel Hugh Kelly), publicitário que está passando por uma crise no emprego, Donna (Dee Wallace), esposa adúltera que mantém um caso com o marceneiro da família, e seu filho Tad (Danny Pintauro), o enredo nos leva até o encontro de Tad, Donna e Cujo.

Com a decorrência de uma série de eventos, Tad e Donna ficam aprisionados em seu próprio carro, sem poder sair em função da ferocidade descomunal que Cujo manifesta. O resultado são sequenciais cenas inquietantes e claustrofóbicas, onde o cão faz de tudo para intervir violentamente para com Donna e seu filho. 

A mera imagem de se estar preso em um carro com pane mecânica, sem ter como fugir, com um feroz animal lhe vigiando o tempo inteiro, ansiando matar alguém, já é demasiado perturbadora (e tudo isso é salientado maravilhosamente em cenas como a em que o cão se choca de forma violenta contra o carro, arrebentando seu próprio crânio para poder entrar no interior do veículo).

Fica claro a transposição de ideias proposta. Alterando a imagem do cachorro de "melhor amigo do homem" para o seu "carrasco", tudo isso enaltecido com a grande contribuição com que a imagem esdruxula do cão traz, associando sua figura a de uma fera insana e incontrolável. Talvez tenhamos mesmo um "novo" nome para o terror...

sábado, 23 de janeiro de 2016

Transgressividade #9: Thriller – En Grym Film (1973)

Capa do filme.
Quando se fala nesse clássico cult do underground, geralmente surge o slogan "o filme que inspirou Tarantino no seu Kill Bill". Eu, por adorar este filme, tentarei não bater nessa tecla, pois o filme é muito mais do que uma singela inspiração para Kill Bill. Thriller - En Grym Film traz em sua raiz uma das tramas de vingança mais bem moldadas do cinema.

O filme acompanha Madeleine, garota que foi abusada quando jovem e, devido a este hediondo fato, sofreu um trauma que a fez perder a voz. Quando mais velha, a garota é raptada por um sujeito à beira da estrada.

Após viciar a pobre garota em heroína, ele a força a se prostituir em troca de duas doses diárias da droga. Ela se vê forçada a sustentar o seu vício, pois acabará morrendo com a abstinência do mesmo.

Contudo, quando se vê frente ao primeiro cliente, ela não suporta e surta, cortando a face do homem com as unhas. O seu raptor, enraivecido, lhe deixa cega do olho esquerdo, numa clássica cena que relembra o clássico curta de Luis Buñuel e Salvador Dalí: Um Cão Andaluz (1929).

Tony (raptor) indo em direção ao olho de Madeleine.
Atordoada com o fato, ela não reage. Momentos depois, ela conhece Sally, também prostituta de Tony. Descompensada com a vida que leva, Sally conta à Madeleine o seu plano de fuga. Mais tarde, quando descobre que seus pais se suicidaram por causas das cartas maldosas que Tony mandava em seu nome, Madeleine não tem outra alternativa a não ser planejar sua vingança.

Agora usando um tapa-olho e sendo chamada vulgarmente de "pirata", ela aceita se dar aos homens (e uma mulher) e começa a guardar o dinheiro que recebe. Com o dinheiro guardado, ela começa a fazer aulas de karatê, aulas de direção e aulas de tiro, dando início o caminho para sua vingança.

Entre idas e vindas de suas aulas, Madeleine se deita com diversos clientes, em cenas que o diretor Bo Arne Vibenius mostra sem nenhum pudor, de forma totalmente explícita. Até que, ao descobrir que Sally foi morta, ela decide que é o momento de colocar em prática tudo o que aprendeu nos últimos meses.

Ela "caça", um a um, todos os participantes daquele mundo inóspito a qual foi forçada a participar. Em cenas fantásticas, onde o diretor usa do slow motion como um fator que enfatiza a violência de forma magistral. Torna, assim, a violência um tanto quanto estilizada, coisa que certamente influenciou Tarantino em sua carreira cinematográfica. Ao final do filme, ela finalmente aniquila seu raptor, em uma cena tão icônica que não merece ser narrada, mas sim assistida.

Para contribuir ainda mais com o longa, a lindíssima Christina Lindberg nos fornece uma fascinante atuação, mesmo sem proferir uma única palavra durante o filme todo, usando apenas os seus trejeitos. A figura de sua personagem, sem dúvida, tornou-se uma imagem muito disseminada e angariou diversos admiradores ao redor mundo.

Apesar de toda a atmosfera violenta, os sequenciais planos eróticos e o enredo repugnante, Thriller - En Grym Film é um filme visualmente lindo; essencial para qualquer pessoa que deseje dar um primeiro passo no mundo do cinema extremo. Um filme que mostra magnificamente como uma garota inocente, devido as circunstâncias em que foi submetida, pode se tornar em uma assassina fria e vingativa.
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- Curiosidades:
1. Thriller - En Grym Film foi banido de diversos países (inclusive a Suécia, país de origem do filme), tendo de sofrer diversos cortes para (ainda com muita dificuldade) ser visto nos cinemas mundiais. Contudo, mais tarde o filme foi restaurado e lançado integralmente em DVD.
2. O olho cortado no filme era de um cadáver real de uma garota que havia morrido há pouco tempo.
3. Devido aos diversas cortes feitos, o filme teve muitas edições e passou a ser conhecido sob diversos nomes: como "Thriller - A Cruel Picture" e "They Call Her One Eye". Inclusive, o filme foi exibido no SBT sob o nome de "Eles a Chamam de Caolha".