sábado, 24 de setembro de 2016

Thriller Night #8: Polednice (2016)

Capa do filme.
Eis aqui um daqueles filmes que acabamos encontrando por acaso, ao visitar grupos e fóruns de cinema. O mais curioso é que entre os comentários que cercavam as discussões ao redor deste filme, a esmagadora maioria eram de teor crítico, desmerecendo o valor do filme, e foi justamente isso que atiçou minha curiosidade de assistir Polednice.

Isso sem contar com o fato de o título do longa me remeter ao belíssimo poema sinfônico homônimo de Dvorák e possibilitar aumentar o meu conhecimento raso acerca da cinematografia tcheca, que no momento é muito rasa.

A exemplo de Demon, este filme também incorpora elementos de sua cultura nacional, explorando mitos folclóricos de seu povo. Aqui é retratado (de forma bem discreta) a lenda de Poludnitsa.

Segundo a mitologia, durante a época da colheita, ela transita por meio aos grãos, no intuito de defendê-los. Caso alguém seja visto por ela trabalhando ao meio-dia, ela o assassina brutalmente. Por vezes, ela faz perguntas ao trabalhadores e os assassina, caso não receba a resposta que deseja. A lenda diz que Poludnitsa é responsável pelo desaparecimento de várias pessoas na colheita - especialmente crianças; e é aí que entra o filme.

Contudo, o mais interessante do filme não é nem mesmo o enfoque ao mito (que é - de certa forma - até pouco elaborado), mas a construção narrativa densa e progressiva que o enredo nos oferece. Contando com um drama bem planejado, uma fotografia belíssima e uma certa sensação de anóxia.
Mão e filha, sendo alertadas do perigo do aparecimento da Poludnitsa.
As atuações não são grande coisa, mas o roteiro bem trabalhado alivia as fraquezas de interpretação vividas pelos atores no longa. A atmosfera intensa pode não causar nenhum terror, mas provavelmente irá conseguir provocar sensações inquietantes no imaginário de quem o assistir. Primeiro filme do diretor Jiri Sadék, Polednice pode ser uma opção interessante na busca por um thriller psicológico bem construído.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Área Cult #4: O Substituto (2011)

Capa do filme.
Quando uma amiga me recomendou este filme com tanta empolgação e euforia, confesso ter ficado curioso. A narrativa simples que ela me apresentou me deixou intrigado com o porquê dela ter ficado em tamanho êxtase com esta pérola. Felizmente, quando pude assistir e conferir do que se tratava o filme, compreendi a excitação dessa minha amiga.

Contudo, a tradução do título me deixou um tanto quanto furioso, haja vista que o título original: Detachment, explicita de forma bem clara e objetiva o intuito do filme, enquanto a tradução soa como mais uma das tacanhas tentativas da indústria cinematográfica brasileira de tentar facilitar a experiência do espectador, mas que na realidade só atrapalha.

Mas afinal, do que se trata o filme? Aos olhos de uma pessoa desatenta, o filme pode soar apenas como um drama barato, mas por sob a camada dramática e densa há uma mensagem escondida: a crítica à expansão do desapego.

Logo no início, a epígrafe de Albert Camus já nos dá uma dica do que virá pela frente, nela se pode ler: "E eu nunca me senti tão imerso e ao mesmo tempo tão desapegado de mim e tão presente no mundo", sendo tal frase a base de construção do personagem principal, o professor interpretado por Adrien Brody, que surge como (talvez) o único interessado em educar os alunos e combater toda uma situação melancólica que lhe é confrontada durante o filme, ao mesmo tempo em que tem de lidar com seus traumas familiares e pessoais, transitando entre ambos os espectros como a recitar uma poesia.

Mas quando digo desapego, não restrinjo a ideia apenas às relações sociais que permeiam a convivência de todos nós como sociedade, mas também o desapego com o ambiente escolar, retratando a falência do ensino; o desapego com os valores que constituem a sociedade como um todo e o vazio existencial que nos acomete por não conseguirmos repor ou ao menos estruturar uma outra forma de organização moral; o colapso de toda uma geração, cada vez mais afundada em sua solidão e seus traumas.

Toda a atmosfera do filme gira em torno de uma sensação de asfixia, onde as pessoas estão cada vez mais desesperadas com a solidão e a dor que consome toda uma comunidade sem horizontes, como a parasitar em um cotidiano sem consequências. Cru e profundo, O Substituto é um verdadeiro ensaio sobre a vida, que resulta em muitas reflexões. Um filme grandioso e que vale a pena se conferir.

Trecho do roteiro extraído do filme: “Todos temos problemas, coisas com as quais temos que lidar, e todos nós levamos eles para casa de noite, e levamos para o trabalho de manhã cedo. Eu acho que tudo isso, essa impotência, essa constatação, esse mal presságio, estar à deriva em um mar sem boia nem salva-vidas, quando você achou que seria você quem jogaria a boia”.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sem Mais Delongas #8: A delegação das responsabilidades.

(ou como a pedagogia do oprimido é opressora).


Um dos discursos que mais têm se propagado nos últimos tempos é a noção de que indivíduos são representados por grupos de pessoas com características em comum, sejam elas definidas por fatores inatos ou não. A proliferação de tais discursos resulta na animosidade que hoje presenciamos na sociedade em que vivemos, tendo eles - muitas vezes - um viés político-ideológico por trás.

A ideia de que pessoas - distintas e conscientes - possam ter suas concepções representadas por um grupo (ou movimento) é uma falha lógica. O cerne da liberdade resulta na individualidade e, sendo assim, a suposta "libertação" originária dessa "quebra de paradigmas" é que tolhe o real e magnânimo direito in natura de todo indivíduo: sua liberdade de pensar, falar e agir. Um verdadeiro acinte à qualquer tipo de aplicação lógica.

Todo indivíduo é um fim em si mesmo e, portanto, não é responsável por aquilo que um determinado grupo pensa, diz ou faz. Um indivíduo não responde por ações de um grupo e vice-versa. A negação dessa ideia é apenas um pretexto para que determinados coletivos de pessoas angariem compreensões diferentes para grupos diferentes. Sendo assim, tal separação da sociedade representa um ode à desigualdade, haja vista que a simples divisão de uma sociedade em grupos explicita a forma de tratamento direcionada à cada uma destas reuniões de pessoas.

Galgada na luta de classes Marxista, a pedagogia Freireana age como instrumento para forjar uma sociedade desmembrada e dividida, incitando o ódio entre determinados grupos com a intenção de perpetuar um status quo caótico, cada vez mais pujante e megalomaníaco. É a consumação básica da estratégia segregadora divide et impera, brilhantemente esquematizada por Sun Tzu em "A Arte da Guerra", e usada por diversas vezes no decorrer do período histórico.

Enquanto a disseminação de ideários odiosos entre os meios de comunicação e, especialmente, no meio acadêmico, prosseguir e se expandir, o direcionamento destes indivíduos se afastará cada vez mais de uma reformulação da situação vigente e haverá cada vez mais revolucionários de meia tigela,  que na prática servem à propósitos despóticos que se mostram cada vez mais suntuosos, formando uma grande massa de asseclas pedantes que parasitam em meio de conjecturas inócuas.