domingo, 31 de dezembro de 2017

Dedo de Prosa #18: Mãe! (2017)

Capa do filme.
O alvoroço provocado pelo novo filme do Aronofsky foi grande. Apesar de ver que muita gente estar comentando sobre o drama, eu evitei checar os reviews, pois conheço a filmografia do diretor de cabo à rabo e sei que suas obras merecem uma atenção maior, devido as constantes alegorias e simbolismos que ele traz. "Mãe!" não é diferente. Inclusive, talvez seja o filme mais alegórico e com mais simbolismos de toda a carreira do diretor.

Apesar de ter no seu papel principal a fraca (e mais nova queridinha de Hollywood) Jennifer Lawrence, nada há para se queixar com relação à atuação, tanto dela quanto do seu parceiro Javier Bardem, além da brilhante participação dos coadjuvantes Ed Harris e Michelle Pfeiffer. O filme, enxergado através da ótica da personagem interpretada por JLaw, transmite uma sensação intensa de angústia, como se a cada plano o mundo que estivesse ao seu redor pudesse ruir completamente. Os enfoques no misé-en-scène, como função de construção simbólica da narrativa, são cruciais para sedimentar a atmosfera claustrofóbica que está presente em todo o longa.

Mãe (JLaw) é uma mulher pacata, que vive numa casa isolada com o seu marido poeta. Na inconstância do relacionamento, onde ela está insatisfeita pelo descaso com que é tratada e ele pela incapacidade de produzir algo referente à sua escrita. Nesse cenário de conflito psicológico, a trama se desenvolve. A própria fotografia e o som, em vários momentos do longa, enfatiza esse sufocamento sentido pelos dois, além da própria postura que ele assume ao interagir com a sua amada.

Agindo em duas frentes, o enredo proporciona significados distintos (mas conjuntos em significância narrativa), o que faz com que o filme, mesmo aos que não compreenderem de imediato, obtenha sucesso mesmo com o entendimento raso da trama. Alimentado pela ideia da Criação, o enredo personifica Ele/Deus (Javier Bardem) como o engenheiro por trás de toda a criação, sendo a Musa/Mãe[Natureza] um elemento de equilíbrio desse processo. O Homem (Harris) representa a figura bíblica de Adão e a Mulher (Pfeiffer) a de Eva. O irmão mais velho (Domhnall Gleeson) e o irmão mais novo (Brian Gleeson) representam, respectivamente, Caim e Abel.

"Mãe!" narra a história de um processo de criação e sobre a Criação. A Musa em chamas apresentada no início do filme é o ponto de partida de onde Mãe reconstrói o mundo a partir das cinzas, esvaziado pelo esgotamento do "poema" anterior. É em dependência da ação de Mãe que Ele coloca as responsabilidades do seu processo criativo, de forma que é a partir da reconstrução da casa, por parte da Mãe, que é possível que as ideias (representadas pelo Homem) voltem a frequentá-la. 

Neste panorama, a aparição do Homem e da Mulher suscitam o pecado original (simbolizado aqui pelo vilipêndio à pedra preciosa - "fruto proibido" - guardado no escritório d'Ele), aquele que desencadeou todas as mazelas que perverteram a humanidade e que vão, paulatinamente, sendo representadas com a destruição progressiva da casa onde todos estão, que simboliza o nosso mundo. Na busca incessante por uma "injeção de adrenalina" criativa, Ele permite com que toda a desgraça do mundo seja ampliada, mesmo com toda a relutância de Mãe.

Passada a expulsão do Homem e da Mulher da casa - "Paraíso" - e o livramento das pessoas - dilúvio - pós-funeral do Irmão mais novo - Abel - é restaurada uma atmosfera mais amena, onde Ele e Mãe geram uma gravidez, o que finalmente alimenta a criatividade do poeta que, influenciado pela vida e o amor, escreve uma poesia - escritura - descrevendo todos aqueles acontecimentos.

Recebido com clamor pelo povo - fundamentalistas fanáticos - a casa é novamente invadida, fazendo com que a Mãe (Natureza) se desespere novamente. Em meio ao caos generalizado construído pelos asseclas d'Ele, Mãe dá luz à um bebê - Cristo - que, em um momento de descuido dela, é levado por Ele para o povo - humanidade - que o sacrificam, bebendo o seu sangue e comendo o seu corpo.
A simbolização do sacrifício de Cristo.
Embora recebido o perdão d'Ele, o caos produzido pelo povo - humanidade - é tamanho que a destruição de tudo - apocalipse - é inevitável e a Mãe toca fogo na casa, representando o fim de um ciclo. Desconsolada por não ter sido suficiente à Ele, Mãe entrega seu último despojo de amor e cede o seu coração - progressivamente apodrecido durante o filme - à Ele, de onde é retirada uma joia que leva, novamente, ao princípio. Legitimando, assim, a compulsão criativa d'Ele, um Deus egocêntrico à quem ser amado é mais importante do que amar.

Destarte, digo sem medo algum que "Mãe!" é - para este que vos fala - o melhor filme (e o mais corajoso, em termos narrativos) do ano. Aronofsky ascende, novamente, como um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, pela fidelidade ao seu estilo e a sua excentricidade artística. Tecnicamente impecável, narrativamente preciso e alegoricamente poético, "Mãe!" é um deleite para qualquer cinéfilo.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Dedo de Prosa #17: Dunkirk (2017)

Capa do filme.
O filme que faltava à carreira do Nolan.

"Dunkirk" não é o melhor filme do Nolan, isso ficou claro para mim quando os créditos começaram a rolar e aquela impressão de "tá... foi bom, mas eu esperava mais" começou a latejar na minha mente. Não é que o filme seja ruim - longe disso! - mas ele possui pouca engenhosidade na hora de criar uma narrativa um tanto inventiva, fazendo com que o filme - primoroso tecnicamente - acabe repetindo algumas fórmulas já batidas no gênero do cinema de guerra. Ainda assim, considero esse filme um divisor de águas na carreira do diretor inglês.

Christopher Nolan é - junto de alguns outros nomes como Darren Aronofsky, Denis Villeneuve, David Fincher, entre outros - um dos diretores mais promissores dessa safra de novos cineastas que surgiram dos anos 90 para cá. Contudo, o nome do britânico ainda parece deixar muito cinéfilo - em especial os mais saudosistas! - com um certo pé atrás, haja vista as suas narrativas, por vezes, comerciais e megalomaníacas (no bom sentido).

É justamente aí que "Dunkirk" entra. São inúmeros os cineastas, tanto britânicos quanto americanos, que tiveram como marcos fundamentais de suas obras grandes filmes ambientados em guerras, tais como Kubrick ("Full Metal Jacket"/"Paths of Glory"); Coppola ("Apocalypse Now"); Malick ("The Thin Red Line"); Spielberg ("Saving Private Ryan"/"Schindler's List"); Lean ("The Bridge on the River Kwai"/"Lawrence of Arabia"); Cimino ("The Deer Hunter"); Stone ("Platoon"); Polanski ("The Pianist"), entre outros. Dito isto, considero - estrategicamente falando - uma escolha bem feita ter resolvido dirigir um filme deste teor agora, ainda que o resultado final não tenha sido o melhor possível. É a ponta-de-lança para que passem a respeitar o nome do Nolan como o grande diretor que é.

Quanto ao filme em si, não há muito o que ser dito. Tecnicamente o filme é primoroso. Cada plano é realizado de maneira cirúrgica, de tal modo que mesmo as tensões trabalhadas na narrativa são refletidas na forma como a filmagem transcorre, provocando uma sensação de imersão na trama pouco comparável. O som é um elemento à parte, não só pela já característica trilha-sonora fabulosa de Hans Zimmer, como pela mixagem dos efeitos sonoros aliados aos eventos da trama.

A catarse do filme.
Contudo, a trama do filme deixa a desejar quando o roteiro, um tanto caótico, começa a apresentar incongruências dentro da sua própria proposta, haja vista que o filme começa fugindo dos estereótipos spielbergerianos das romantizações dos heróis e vilões e das narrativas ortodoxamente lânguidas, priorizando uma atmosfera mais sensorial e enigmática. Contudo, com a não-linearidade dos eventos e a profusão de diversos segmentos narrativos menores dentro de toda a trama, o filme não consegue desenvolver seus personagens e acaba por falhar ao tentar produzir um sentimento de identificação estes.

Desta forma, "Dunkirk" acaba por ser um filme técnico e seguro, a ser analisado especialmente sob esta ótica. Talvez devido a pretensão com que tenha sido produzido ou mesmo o resultado total da trama, que desemboca em uma lógica indutiva gerando insatisfação no final, o filme acaba por se mostrar como um dos mais fracos da carreira do diretor. Ainda assim, é - para todos os fins - um dos mais importantes para a história do Nolan.

sábado, 23 de dezembro de 2017

Sem Mais Delongas #18: A afetividade caótica.

(ou de como Eros e Ágape vivem em guerra).


"Amamos o próprio desejo e não o desejado."¹

É curioso como as percepções que carregamos acerca de determinados nichos do conhecimento, especialmente aqueles relacionados ao campo das relações humanas, são maleáveis e, até certo ponto, incognoscíveis. De facto, o modo como entendemos a realidade presente de um determinado arcabouço de particularidades sensoriais é - em substância - afetado pelo envolvimento com que se dá o contato do sujeito com o objeto. Contudo, embora essa introdução conduza à um raciocínio que se erga semelhante à uma espécie de relativismo kantiano, o ponto que aqui quero tratar não é esse.

É possível pensar o campo das relações afetivas como uma norma prescritiva que possa ser abstraída por meio da razão ou toda a composição das características que envolvem esse campo das relações humanas está - necessariamente - entregue à um relativismo barato? Não pretendo argumentar a favor de nenhuma das duas opções, pois não presumo conceber a complexidade do comportamento humano em sua totalidade, tampouco presumo que é tudo uma questão de acaso.

A grande questão que envolve - ao meu ver - esta tratativa, é o cinismo com que somos tencionados a agir quando estamos expostos aos conflitos - internos e externos - que compõem esse campo das relações humanas, como abordei brevemente aqui. O campo das relações afetivas, afinal, é o nicho mais idealizado das relações humanas, fazendo com que a necessidade, quase que compulsória, de uma projeção exterior das pretensões - concretas e abstratas - dos nossos anseios próprios, seja um elemento fundamental daquilo que incorpora toda a atmosfera dessas relações, fazendo com que se delegue as responsabilidades pelas incompletudes específicas de cada indivíduo.

Quase como um amor fati nietzscheano, em um estado de transporte da nossa consciência sensorial da realidade factível para um campo idealizado dessa consciência, que forja percepções incongruentes no objeto de identificação externa, esse cinismo intrínseco alimenta um jogo dialético de poder e submissão que conduz essas relações ao parasitismo existencial, fazendo com que o fim último de toda espécie de relação afetiva seja a perpetuação de uma imagem de sobreposição (de preferência) assintomática.
"The nightmare" (Johann Heinrich Füssli, 1781)
Essa identidade forjada, impulsionada por todo esse processo narrado anteriormente, produz decorrências consequencialistas caricatas e plásticas, tornando todo o transcorrimento desses eventos em tentativas compulsórias de ratificar as posições que foram pré-estabelecidas nas projeções realizadas do sujeito para com o objeto. Para mais ou para menos, essa compleição de aspectos não consegue ser plenamente superada, o que determina o caminho senoidal pelo qual percorre as sinestesias desse jogo dialético.

O fenômeno da vida estetizante, entendido aqui não apenas como a exposição externa daquilo que estimula essas relações, mas - concomitantemente - também as projeções artificiais elaboradas que, ad hoc, servem de reflexo dos interesses pessoais de cada sujeito, funcionam como um elemento de alienação perante toda essa conjuntura de acepções e entregas que, para o bem ou para mal, estão presentes em qualquer relação afetiva.

Os mecanismos materiais de comunicação afetiva; as exigências e aquiescências corroboradas pelas ambições polarizantes; os elementos de transposição das responsabilidades enternecedoras e demais outros aspectos que compõem essas relações, são - lato sensu - expressões daquilo que entendo por características indicativas da maneira egocêntrica (e orgulhosa) com que esses vínculos afetivos funcionam, das mais variadas formas e ordens. Ainda assim, é compreensível a preferência que é dada à todo esse processo, mesmo considerando sua condição caótica e amedrontadora de funcionar, haja vista que a ausência dele é - por vezes - desconsoladora.
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¹Citação extraída de "100 aforismos sobre o amor e a morte", por Friedrich Nietzsche.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Dedo de Prosa #16: Star Wars VIII - Os Últimos Jedi (2017)

Capa do filme.
Entre ano e sai ano, somos mais uma vez agraciados com um filme da saga mais bem sucedida da história. Sucedendo os acontecimentos de "O despertar da Força", o episódio VIII não decepciona ao assumir a tarefa de combinar os elementos apresentados na primeira trama desta nova trilogia, dando maior substância aos personagens e incorporando-os melhor dentro do universo em que estão inseridos.

Neste sentido, "Os últimos Jedi" consegue pavimentar de maneira magistral o caminho para os próximos capítulos da franquia, construindo seu enredo sob uma atmosfera de tragédia e inquietação (incrível como praticamente nenhum plano elaborado durante o filme dá certo), suscitando curiosidade e inventividade no tratamento do longa.

Até mesmo o maniqueísmo - trabalhado à exaustão durante a história da franquia - embora ainda esteja presente neste oitavo episódio, apresenta-se aqui com elementos mais intensos, focalizando nas tensões dos dois polos deste maniqueísmo (Rey e Kylo Ren) as inseguranças de personagens ainda incompletos e em busca de uma melhor compreensão de si mesmo e, também, de seus próprios poderes.

A ruptura com o molde tradicional com que a construção das narrativas de Star Wars eram construídas é elemento significativo neste longa. Embora continue respeitando todo o arcabouço simbólico que a franquia construiu nas últimas décadas, o diretor Rian Johnson conseguiu fazê-lo de modo sensível o bastante para que as sutis representações nostálgicas apresentadas não fossem apenas fan services comerciais e sem função narrativa. 

Deste modo, este oitavo episódio assume - para o bem ou para o mal - a necessidade de expansão da franquia na composição de outros universos narrativos, o que fica bem claro na exibição feita de diversos outros planetas e personagens que ainda não eram de conhecimento do público.

Todos os personagens principais possuem um espaço agradável de tela, em função das necessidades de resolução que cada um acaba por ser incumbido de cumprir dentro do contexto geral do filme. Mesmo a figura de Luke, por vezes, apresentada como um sujeito imponente e relutante, encaixa-se magistralmente com as problemáticas dispostas durante o filme, especialmente nos diálogos entre ele e Rey

A atmosfera de aventura e tensão dentro do contexto galático da franquia continua presente, embora cada vez mais com uma roupagem mais dinâmica e corajosa. Pois não só como os Jedi e a Força, o próprio universo que gira ao entorno da franquia necessitava de uma vitalizada substancial e esta, definitivamente, foi alcançada com o oitavo episódio.

Para além dos acontecimentos do filme, evitados nesta resenha com o intuito de não propagar spoilers desnecessários, asseguro que, pessoalmente, "Os últimos Jedi" é o melhor filme de Star Wars desde que a franquia voltou à ativa em 2015. Em termos de dramatização e reviravoltas narrativas, arrisco-me a dizer que o oitavo episódio só não supera "O império contra-ataca", já colocado no status de melhor da franquia.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Utopia, por Björk (2017)

Capa do disco.

(um desabafo em nome da beleza do amor)


Björk é - ao menos para mim - uma das cantoras mais interessantes, inovadoras e corajosas (musicalmente falando), do cenário fonográfico das últimas décadas. Apesar de ter priorizado um aspecto mais pessoal e sentimental em seu último disco, "Vulnicura", a cantora islandesa retorna, em seu novo disco, às experimentações que marcaram tão assiduamente sua carreira.

Disco mais longo da carreira da cantora, o disco conta com 14 faixas, totalizando cerca de 71 minutos de música. Utopia, como o próprio nome sugere, retrata a esperança de se encontrar amor em um mundo desolado. Como uma energia sublime que é retirada do seu estado de inércia. Sentidos acordando em uma composição de sons, ora claros ora enigmáticos.

A primeira faixa, "Arisen my senses", inicia o disco com uma composição de vocais sobrepostos, dando massividade à um instrumental em senoide, que alterna momentos de dinamismo e calmaria, representando o acordar de um estado de sonolência sentimental. A segunda faixa, "Blissing me", soa um tanto mais limpa, com alguns beats específicos pra dar ritmo ao som, como a exortar a inocência ilusória de um amor pulsante e visceral.
 A terceira faixa, "The gate", possui uma atmosfera quase épica, de modo que as passagens da música são conduzidas tal como um "grito" de redenção; a abertura para o caminho da luz. A quarta faixa, "Utopia", representa o prenúncio da proposta de toda essa conjuntura auditiva: o amor interno, composto por diversos instrumentos de sopro sincronizados, em uma harmonia belíssima.



 A quinta faixa, "Body memory", é uma espécie de jornada sonora e narrativa; uma espécie de odisseia simbiótica potente e acachapante, conduzida por batidas rítmicas e apoteóticas. A sexta faixa, "Features creatures", é um sopro de relaxamento; um descanso breve e límpido com efeito curativo, ressoando por entre as áreas mais profundas da alma.

A sétima faixa, "Courtship", possui um teor um tanto conciliador, de tal forma que os componentes musicais presentes nas anteriores se encontram aqui, ressaltando um, talvez, caminho menos árduo rumo à catarse. A oitava faixa, "Losss", simboliza um último grito de exortação; uma espécie de lavagem espiritual arrebatadora, abrindo de uma vez o caminho para a catarse.

A nona faixa, "Sue me", condiciona um sentimento de indiferença, demonstrando que os pesares anteriormente combatidos foram deixados para trás. A décima faixa, "Tabula rasa", remete à uma passagem de incumbências, caricaturando a entrada em um novo arcabouço de particularidades existenciais.

A décima primeira faixa, "Claimstaker", marca um tipo de manifesto em nome da ação; da afirmação de um caráter pessoal e indefectível que começa a se formar, como um "mergulho à uma floresta residente". A décima segunda faixa, "Paradisia", é uma música instrumental lúdica, que coordena uma espécie de assentamento próximo ao destino percorrido.

A décima terceira faixa, "Saint", salienta a construção de um novo alicerce de percepção das coisas; um antídoto musical assintomático. Por último, a décima quarta faixa, "Future forever", apresenta essa construção catártica finalmente completa; uma ponte transitória para a tão promulgada plenitude da fortaleza do amor.

Sob todos os aspectos, "Utopia" é um disco belíssimo. Mas diferente do seu anterior, "Vulnicura", que ainda possibilitava a audição de suas músicas de maneira separada, sem prejudicar diretamente o efeito simbólico do disco, este novo disco da cantora apresenta uma espécie de odisseia auditiva que, se não ouvida agrupadamente, perde um pouco de sua identidade, tanto sonora como simbólica.

De tal modo que, pode-se dizer, a Björk acabou por tornar "Utopia" em uma verdadeira utopia, alcançada apenas sob o jugo de uma imersão profunda naquele mundo de belezas incontestes. Mas, despiciendas estas considerações, "Utopia" é mais um grande disco de uma das maiores artistas em atividade no ramo musical.