sábado, 9 de dezembro de 2017

Utopia, por Björk (2017)

Capa do disco.

(um desabafo em nome da beleza do amor)


Björk é - ao menos para mim - uma das cantoras mais interessantes, inovadoras e corajosas (musicalmente falando), do cenário fonográfico das últimas décadas. Apesar de ter priorizado um aspecto mais pessoal e sentimental em seu último disco, "Vulnicura", a cantora islandesa retorna, em seu novo disco, às experimentações que marcaram tão assiduamente sua carreira.

Disco mais longo da carreira da cantora, o disco conta com 14 faixas, totalizando cerca de 71 minutos de música. Utopia, como o próprio nome sugere, retrata a esperança de se encontrar amor em um mundo desolado. Como uma energia sublime que é retirada do seu estado de inércia. Sentidos acordando em uma composição de sons, ora claros ora enigmáticos.

A primeira faixa, "Arisen my senses", inicia o disco com uma composição de vocais sobrepostos, dando massividade à um instrumental em senoide, que alterna momentos de dinamismo e calmaria, representando o acordar de um estado de sonolência sentimental. A segunda faixa, "Blissing me", soa um tanto mais limpa, com alguns beats específicos pra dar ritmo ao som, como a exortar a inocência ilusória de um amor pulsante e visceral.
 A terceira faixa, "The gate", possui uma atmosfera quase épica, de modo que as passagens da música são conduzidas tal como um "grito" de redenção; a abertura para o caminho da luz. A quarta faixa, "Utopia", representa o prenúncio da proposta de toda essa conjuntura auditiva: o amor interno, composto por diversos instrumentos de sopro sincronizados, em uma harmonia belíssima.



 A quinta faixa, "Body memory", é uma espécie de jornada sonora e narrativa; uma espécie de odisseia simbiótica potente e acachapante, conduzida por batidas rítmicas e apoteóticas. A sexta faixa, "Features creatures", é um sopro de relaxamento; um descanso breve e límpido com efeito curativo, ressoando por entre as áreas mais profundas da alma.

A sétima faixa, "Courtship", possui um teor um tanto conciliador, de tal forma que os componentes musicais presentes nas anteriores se encontram aqui, ressaltando um, talvez, caminho menos árduo rumo à catarse. A oitava faixa, "Losss", simboliza um último grito de exortação; uma espécie de lavagem espiritual arrebatadora, abrindo de uma vez o caminho para a catarse.

A nona faixa, "Sue me", condiciona um sentimento de indiferença, demonstrando que os pesares anteriormente combatidos foram deixados para trás. A décima faixa, "Tabula rasa", remete à uma passagem de incumbências, caricaturando a entrada em um novo arcabouço de particularidades existenciais.

A décima primeira faixa, "Claimstaker", marca um tipo de manifesto em nome da ação; da afirmação de um caráter pessoal e indefectível que começa a se formar, como um "mergulho à uma floresta residente". A décima segunda faixa, "Paradisia", é uma música instrumental lúdica, que coordena uma espécie de assentamento próximo ao destino percorrido.

A décima terceira faixa, "Saint", salienta a construção de um novo alicerce de percepção das coisas; um antídoto musical assintomático. Por último, a décima quarta faixa, "Future forever", apresenta essa construção catártica finalmente completa; uma ponte transitória para a tão promulgada plenitude da fortaleza do amor.

Sob todos os aspectos, "Utopia" é um disco belíssimo. Mas diferente do seu anterior, "Vulnicura", que ainda possibilitava a audição de suas músicas de maneira separada, sem prejudicar diretamente o efeito simbólico do disco, este novo disco da cantora apresenta uma espécie de odisseia auditiva que, se não ouvida agrupadamente, perde um pouco de sua identidade, tanto sonora como simbólica.

De tal modo que, pode-se dizer, a Björk acabou por tornar "Utopia" em uma verdadeira utopia, alcançada apenas sob o jugo de uma imersão profunda naquele mundo de belezas incontestes. Mas, despiciendas estas considerações, "Utopia" é mais um grande disco de uma das maiores artistas em atividade no ramo musical.

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