(ou como a covardia também pode ser nobre).
Muitas são as dicotomias que com o curso histórico ganharam significados qualitativos: Céu e Inferno; beleza e feiura; positivo e negativo; claro e escuro; entre outras. Não muito diferente destas, evidenciou-se uma dicotomia um tanto quanto curiosa (e talvez uma das mais deturpadas) que pudemos presenciar: o otimismo como um aspecto de virtuosidade e o pessimismo como um tipo de corrupção psicológica e/ou social.
É estranho, a priori, pensar que os valores de tais proposições possam estar invertidos, mas uma reflexão mais profunda sobre as mesmas podem produzir resoluções que se dissociam desse senso comum. Filosoficamente, a realidade (e a existência humana, como objeto de investigação de si mesma) produziu uma percepção de que o mundo é um lugar de sujeira, onde a crueldade e o egoísmo são o cerne do funcionamento de uma vida em sociedade. O pessimismo, sob estes aspectos, seria apenas uma corroboração com o cenário no qual todos nós fazemos parte, seja direta ou indiretamente.
É estranho, a priori, pensar que os valores de tais proposições possam estar invertidos, mas uma reflexão mais profunda sobre as mesmas podem produzir resoluções que se dissociam desse senso comum. Filosoficamente, a realidade (e a existência humana, como objeto de investigação de si mesma) produziu uma percepção de que o mundo é um lugar de sujeira, onde a crueldade e o egoísmo são o cerne do funcionamento de uma vida em sociedade. O pessimismo, sob estes aspectos, seria apenas uma corroboração com o cenário no qual todos nós fazemos parte, seja direta ou indiretamente.
Já de caráter um tanto catártico (e absurdamente sofismável), o antagônico otimismo se apresenta como uma válvula de escape à toda essa noção de realidade desgostosa e misantrópica que se moldou com a produção da história do pensamento humano. Apresentando-se como algo lisérgico, toda a noção do otimismo está interligada - quase que integralmente - ao poder de se deixar enganar, se omitindo da realidade que nos cerca; o que é muito semelhante ao efeito de um entorpecente.
A existência é, por si própria, sofrida. O ser (ou existir) é a causa primeira do sofrimento, pois existir é querer (ter vontade) e, em consequência disso, querer é sofrer. É como um pêndulo que está em um estado de desejo e balança até alcançar um estado de saciamento desse desejo, até voltar ao estado primário, onde se volta a querer. Ilustra-se, assim, que a predisposição básica da existência - por ela mesma - é pessimista, pois o saciamento do desejo (felicidade) é apenas uma escala que fomenta a busca por outros desejos (vontades).
Tendo dito isto, o que se configura instintivamente é que um otimista, por sua natureza ilusória, é um covarde. Um covarde, pois aceita trair o próprio exercício ontológico ao assumir uma postura em que as coisas são naturalmente belas e genuínas. Um covarde, pois nega que as oscilações de momentos de gozo e de melancolia aconteçam por estas serem apontamentos manifestos de distorções de um estado de tristeza, onde se está ganhando uma potência de agir que impulsiona um estado de satisfação pessoal.
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"Melancolia I" (Albrecht Dürer, 1514). |
A vida é uma senoide e as variações sensoriais pertencentes à ela são praticamente inevitáveis. O padrão correspondente ao parâmetro de comportamento desta tenderá a ser decrescente, pois toda a gênese da problemática funciona como uma balança, onde um peso é maior que o outro e onde, simbolicamente, essa situação mudará de figura com o impulso de um agente externo, alterando a realidade por um período momentâneo e depois retornando ao princípio magnânimo da existência. O pessimismo é resiliente, o otimismo é utópico. Fora isso, a vida é apenas um exercício de investigação árduo e sem sentido.
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