sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Área Cult #5: Blind (2014)

Capa do filme.
"O real não importa, desde que eu visualize bem."

Primeiro longa do diretor norueguês Eskil Vogt, Blind não é somente um filme, mas uma experiência sensorial. A personagem Ingrid não apenas está perdendo a visão, mas também perde sua capacidade de perceber o mundo sensorialmente. Como uma grande viagem, ela passa o filme tentando captar as nuances do mundo.

Por conta disto, o tom branco e claro da fotografia é salientado, contrastando o apartamento espaçoso e minimalista com a magnitude da escuridão de sua cegueira. O tom de pele quase albino da atriz (Ellen Dorrit Petersen) também contribui para a simbiose das imagens, reforçando através destas uma certa suavidade escondida por detrás de toda a atmosfera gélida que impera no decorrer do longa.

Com o desenrolar da trama, é exposto - ora de forma delicada, ora de forma irascível - memórias e agonias existenciais que percorrem a mente e a vida de Ingrid. Essa confusão de experiências dá origem à subtramas que desnorteiam um pouco o espectador, possibilitando ao enredo explorar elementos do cotidiano de forma profunda.

Mas o ponto chave da trama é o roteiro. Não é nada fácil construir toda uma história envolta aos pensamentos de uma personagem, ainda mais quando esta é limitada de um sentido básico como a visão, mas Vogt faz isso brilhantemente. O ser humano não funciona de forma mecânica e o diretor parece fazer questão de enaltecer isso. As aflições e agonias de Ingrid, a frieza de seu relacionamento praticamente falido e até mesmo os instintos sexuais que permeiam a mente humana, estão ali à nossa frente.
Ingrid, imersa no vazio existencial que sua vida se tornou.
Não à toa Vogt levou o Prêmio de Melhor Argumento no Festival de Sundance. Sua obra não apenas capta os dilemas da existência, como mergulha profundamente na intangibilidade da psiqué humana. Um verdadeiro exercício de cinematografia em favor da dramaturgia, Blind é um filme que deve ser visto. A experiência de assisti-lo representa a possibilidade de descortinar a si mesmo, enquanto aos poucos vemos o filme em si sendo descortinado; pois assim como a de Ingrid, às vezes a nossa realidade também não importa.

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