sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Sem Mais Delongas #14: O fenômeno "Aquarius".

(ou como o jornalismo se tornou uma piada).


Eu acompanhei, durante os últimos meses, as constantes revoltas de jornalistas e sites "especializados" em cinema com relação a perseguição(?) que o filme brasileiro estaria sofrendo depois dos seus componentes terem protagonizado aquela pataquada no Festival de Cannes. Mesmo quando ainda não havia visto o filme, eu já criei um pé atrás com relação a todo esse rebuliço que a mídia estava criando, haja visto que o clamor que o filme gerou em Cannes não foi lá grande coisa.

Depois de algum tempo de ocorrido o festival (e do impeachment da ex-presidente Dilma já ter sido consumado), a poeira parece ter abaixado um pouco. Porém, eis que surge a lista de representantes nacionais de vários países para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar e a ausência de "Aquarius" na mesma para que, mais uma vez, a mídia retornasse com a ladainha de perseguição ao filme, quase nunca atentando aos aspectos que constituem a obra(?) de Kléber Mendonça Filho.

Já um tanto irascível com relação a toda essa situação, eu resolvi finalmente assistir ao tal "Aquarius". Afinal, o filme realmente poderia ser excelente e as revoltas seriam, ao menos, justificáveis. Contudo, tudo que eu pude ver foram uma sucessão de cenas tediosas e diálogos pueris. Nem mesmo o conceito por trás do filme (que poderia ser interessante, caso fosse bem elaborado) consegue aliviar o enfado de assistir "Aquarius".
"Aquarius" e o "golpe": a maior piada de 2016.
Mas, afinal, qual é a motivação da mídia por trás disso tudo? Simples, perpetuar uma história para o futuro; advogar em função de suas predileções ideológicas. É bastante óbvio que o mito do "jornalismo imparcial" - do qual muitos jornalistas tentam usar como escudo de suas motivações - é uma piada. Não é de agora que a mídia exerce um papel essencial para a propagação de ideais e histórias (muitas vezes mentirosas e/ou distorcidas) para a população, tudo em função de projetos alucinados.

O patrulhamento dos mesmos em defesa de suas inclinações ideológicas e/ou políticas é cada vez mais estridente e apaixonada. É óbvio que é impossível (especialmente em algo de teor opinativo) exprimir algo sem considerar suas visões a respeito do tema, mas dever-se-ia - ao menos - ter algum tipo de bom senso, pois o jornalismo atual parece viver em um mundo de fantasia; um mundo, esse mesmo, concebido por Thomas Morus. 

E é por isso que quando surgem pessoas ou plataformas que naveguem por fora desta corrente, estes mesmos sejam imensamente rechaçados pelo culto que o jornalismo se tornou. Pois, antes de tudo, a função política dos jornais (e de todo cidadão, se levarmos o pensamento até a última consequência) é, a priori, condenatória. Deve-se, sempre, ser cético com relação ao que a classe política, que em nada nos representa, faz. Por isso que, muitas vezes, os maiores jornalistas deste país são justamente aqueles que não passaram por um processo formal. Somos nós - que na banalidade de nossas existências - nos apresentamos como a alternativa confiável de informação.

Um comentário:

  1. O que dizer da maioria dos jornalistas, incluindo revistas como a Veja - a qual gosto bastante de ler, ocasionalmente - que não conseguem passar três linhas sobre o Trump sem darem um "piti" como se estivéssemos vivendo o apocalipse...

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