quarta-feira, 13 de julho de 2016

Sem Mais Delongas #7: O desinteresse pelo conhecimento e a desonestidade intelectual.

(ou como o mundo foi dominado por slogans).

A exemplo de "O debate e a "retórica" política (ou de como é fatigante ser respeitoso)", volto aqui a traçar algumas linhas sobre o caótico momento vigente nos discursos espalhados por aí. Falácias, muletas metafísicas, incoerências lógicas e muito mais.

É recorrente no meu cotidiano me deparar com muitos jovens espertos, especialmente na internet. Moços e moças que dedicam o seu dia a discutir problemáticas da nossa sociedade, sejam em questões sociais, políticas, econômicas ou até mesmo culturais. Isso é bom, sem dúvida. O problema não está na ideia em si, mas no discurso usado para defendê-la; na abordagem usada para corroborar com determinada ideia e até mesmo no arcabouço intelectual que aquela pessoa tem acerca do tema que ela mesma se propõe a defender.

Vivemos um mundo onde o jovem - sem generalizar - não se interessa pelo conhecimento. Adquirir sabedoria - na visão destes - não passa de um banal exercício mental. O bacana - nos dias de hoje - é ser esperto (como disse acima). Ter aquela resposta pronta em discursos mastigados que são muitas vezes empurrados para sociedade com uso de cooptação e proselitismo. 

Já não se pensa mais por si, hoje o cool é a defesa de agendas ideológicas. Adota-se toda uma estrutura de pensamento sem que essa seja minimamente perscrutada, incorporando um corpo que pode muito bem estar pútrido. Ser "mente aberta" - nos dias atuais - virou mera figura de linguagem; hoje o legítimo é a reprodução de slogans caricatos, que em determinado momento se apresentam para estes mesmos como dogmas incontestáveis.

Fruto disso, vemos a criação de muitos ídolos - sejam eles ideológicos ou figuras humanas - e uma massa de asseclas que os transformam em seres apoteóticos, inquestionáveis e de moralidade ilibada. Para isso, essa mesma massa age de forma desonesta, intelectualmente falando. Deturpam estatísticas para favorecer as suas visões, numa constante perpetuação da falácia do equívoco; atacam espantalhos ao serem questionados; violam princípios básicos da lógica e imputam aos seus "inimigos" rótulos pejorativos.

A "geração Wikipedia"¹ - que sabe de cor a página do site sobre algum tema, mas nunca se propôs a ler sequer um livro deste mesmo assunto - cresce absurdamente. O advento da internet e a interatividade proporcionada pelas redes sociais contribuiu para isso. A falta de ceticismo dessa juventude é algo assustador: dia a dia o cenário de jovens incapazes de formular um raciocínio coerente aumenta. 

O discurso que estes mesmos defendem parte de um processo raso e de um entendimento superficial. Aprofundar-se em questões complexas é necessário, ou se estará apenas proliferando achismos embasados em discursos rasteiros. Engolindo informações sem nem mesmo testá-las em um processo de falseabilidade. 

A cada dia que passa, tais pessoas se limitam a pensar de forma pequena, esquecendo todo o espectro gigantesco de ideias que um tema pode ter. Restringem até mesmo o acesso a informações que lhes são contrárias, ao invés de se proporem ao desafio de tentar martelar tais ídolos, mostrando como são ocos.

Até que ponto chegaremos se essa idiossincrasia escatológica se perpetuar de vez?
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¹Não vejo problema nenhum em se usar a Wikipedia como ferramenta de busca, muito pelo contrário. Acho a ferramenta interessante e necessária. A questão não está no uso da ferramenta, mas na insistência em permanecer apenas nela; em não se buscar um maior acesso a informações sobre o assunto (o que gera uma alienação desmedida). Isso serve para todo o processo de aquisição de conhecimento, sendo a Wikipedia apenas um exemplo mais palpável.

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