(ou de como é fatigante ser respeitoso)
Como grande admirador de filosofia que sou, acabei me tornando um contundente defensor da arte da dialética. Do diálogo saudável; da troca de ideias frutífera. Acima de tudo, penso que o respeito às posições contrárias é o primeiro passo para se constituir uma discussão sadia que terá como principal fator o engrandecimento intelectual de todos os participantes.
Contudo, o que se vê em prática no Brasil é a imagem de um cenário esdrúxulo. Torna-se comum, a cada dia, a aferição pejorativa das pessoas por suas posições. Passou-se a um patamar banal o fato de se julgar alguém pelo que pensa. Tornamo-nos juízes afirmadores do ódio; da animosidade. Carregamos em nós um caráter de aversão à todos aqueles que se manifestem contrários ao que pensamos. Pois somos os "donos da razão" e não há quem possa contestar isso.
Portamo-nos como crianças birrentas e parecemos não perceber isso. Torna-se a política, que já é vista com grandiosa aversão (devido a sujeira generalizada no ambiente governamental), numa ferramenta ainda mais atroz. E nós fazemos parte disso, ao deixar que sejamos entregues a todo esse bacanal intelectual.
Somos nós os prejudicados com tudo isso. Enquanto as polarizações e o rancor crescem, a vontade de quem quer realmente mudar alguma coisa diminui. Torna-se difícil externar o que quer que seja, sabendo que estaremos sendo subjugados a qualquer instante. Faz parecer que sábios mesmo são aqueles que se mantêm em silêncio, enquanto os corajosos sofrem com a merda sendo jogada em seus rostos.
Somos, afinal, meros espantalhos? Em qual momento erramos para chegar neste ponto, onde um simples dizer constitui o "direito" de um julgamento difamatório?
Fazemos com que pareça que somos a escória intelectual de toda uma geração, ao menos no que se refere ao meio político. Se há algo que deve primar em qualquer conversação é a disposição em entender as colocações que nos são opostas, só assim seremos honestos intelectualmente. Se isso não ocorre, talvez o melhor seja sermos sábios ao modo de Sócrates: assumindo que somos ignorantes.
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